quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Receita de Ano Novo

                                          Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar um belíssimo Ano Novo cor de arco-íris,
ou da cor da sua paz;
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez, ou sem sentido);
Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ver;
novo até no coração das coisas menos percebidas,
(a começar pelo seu interior);
novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita;
não precisa expedir nem receber mensagens;
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas,
nem parvamente acreditar que, por decreto da esperança,
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações;
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal;
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo.
Eu sei que não é fácil; mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

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